Uma pesquisa* e uma pergunta inusitada desnudaram a política. A pergunta "Você votaria se o voto não fosse obrigatório?" dividiu os eleitores do país: 49% responderam não e 48% disseram sim. Ou seja, de um total de 126 milhões de eleitores (as), mais de 61 milhões, quase a metade, não compareceriam às urnas.
A pesquisa, infelizmente, não trouxe as causas de tamanha desmotivação. Mas os números não deixam dúvidas. Expressam um desapontamento generalizado com a política. Indicam que o mapa da mina trilhado pelos políticos minou a confianças dos (as) brasileiros (as).
Provocaram uma pergunta inesperada, cuja resposta abala a mesmice reinante: será que a política está no fim? Para tentar evitar a propagação desta pergunta e conter sua resposta, o povo está sendo submetido a uma pesada e sofisticada campanha publicitária. O objetivo é interiorizar na nossa mente que só existe uma única e exclusiva maneira de enfrentar a crise oriunda dos limites do sistema produtor de mercadorias: é participar da política e continuar votando.
Por causa disso, não importa se você vota em candidatos (as) para todos ou parte dos vários cargos ofertados. Se você vota neste ou naquele partido, se vota em branco ou nulo. O fundamental é votar, é participar. Com isso, procura-se evitar a formulação de uma alternativa que supere o capitalismo e o socialismo.
No entanto, a insistente chamada para esta participação e a censura à pergunta e resposta sobre a falta de perspectiva da política trazem consigo uma outra questão. Uma fraude gravíssima. Um abuso desmedido e enfiado goela abaixo do (a) eleitor (a). Uma imposição que desfaz da nossa inteligência, zomba da revolta ainda contida, especula de forma monótona sobre a monotonia da nossa vida. Mas, do que se trata? Tenta-se criar uma situação para eleger, pelo próprio povo e "democraticamente" quem a mídia e os partidos bem entenderem.
Portanto, chegou a hora de não votar. Afinal, o processo está viciado. A mídia faz do expectador o que bem quer. Corrupto virou ético. Anormal virou normal. Fazer política "é botar a mão na merda". Partido e voto viraram mercadorias. O emprego desaparece. A exclusão cresce. Discriminação, terror, violência, guerra e narcotráfico se espalham. A barbárie toma conta do planeta. O serviço público virou calamidade. A natureza está sendo destruída. O estado democrático virou um mero administrador da crise. A política está impotente diante disto. Está no fim. Então, para que votar? Será que não está na hora de nos rebelarmos?
Não estamos surpresos (as) com o fim da política. Muito pelo contrário, fomos capazes de dimensioná-lo e alertamos que os impasses da política não seriam passageiros, pois o fundamento da produção capitalista (o valor) tinha esbarrado nos seus limites. Como a política é subordinada à economia, com a sua crise vem a crise da política.
Agora, alertamos novamente. Vamos dar adeus às ilusões! Essa crise não vai ser revertida pela política. Nem através dela se realizará qualquer transformação social. A política nos mantém como expectadores diante da destruição da humanidade e do planeta.
Vamos dar asas à nossa inteligência, á nossa imaginação e transcender o sistema atual. Vamos construir um novo movimento social para superar a crise e construir uma nova relação social. Um movimento que contenha não só uma crítica teórica radical, mas também uma atividade prática radical. Vamos romper com a sujeição à política, aos políticos (as) e seus partidos. Vamos criar as condições para decidirmos a nossa própria vida. Vamos superar todas as categorias fundantes do sistema produtor de mercadorias!
É chegado o momento de realizarmos, com nossas mãos, corações e mentes, a ruptura com a política e sua sociedade do espetáculo e construirmos a sociedade da emancipação humana.
*A pesquisa é do Datafolha (Folha de São Paulo, 27/ago/06, págs. A4 e A5)
Grupo Crítica Radical
sábado, 1 de julho de 2006
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